Estudantes mais engajados, alfabetização melhorada e evasão zerada. Esses têm sido os frutos colhidos nas turmas de EJA da Escola Municipal José Henrique de Avelar, em Santo Antônio do Amparo (MG).
Os resultados vêm de um projeto desenvolvido pelas professoras Tais Aparecida Avelar e Andresa Avelar Carvalho, sob a supervisão de Sandra de Oliveira Lima. A experiência foi uma das selecionadas pelo programa de formação docente da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) no âmbito do Pacto EJA.
O projeto, chamado “De tudo um pouco”, inclui uma série de atividades desenvolvidas nas turmas de EJA. Em comum, elas têm como premissa colocar o aluno no centro do processo de aprendizagem, tornando as atividades mais dinâmicas e criativas.
Pacto EJA em ação
A mudança nas metodologias começou com as formações do Pacto EJA. Sandra confessa que, em mais de oito anos atuando com a modalidade, nunca tinha dado o devido valor a ela. “Eu nunca dei a importância que eu dou hoje, depois que começaram as formações do Pacto EJA. Agora, a gente está conseguindo sair daquele método antigo, do beabá, e estamos chegando mais próximo dos alunos”, comenta a supervisora.
É Sandra quem repassa as formações para as professoras de sala de aula. Elas, por sua vez, foram resistentes quando a mudança chegou. “No começo a gente foi um pouco inflexível”, lembra Taís. “A gente olhava para Sandra e falava: ‘Não, a gente não vai fazer desse jeito’. Mas estamos aqui hoje, com essa visão diferente sobre a educação”, completa.
O projeto começou na avaliação diagnóstica realizada todo início de ano. “Além dos conteúdos, a gente também faz o levantamento de coisas do dia a dia dos alunos relacionadas à leitura, escrita e matemática. E, neste ano, nós incluímos a tecnologia, que aprendemos com o Pacto EJA”, conta Sandra.

A partir das demandas dos estudantes, as professoras foram desenvolvendo as atividades. Um exemplo é uma aula de tecnologia, que passou a ser incorporada semanalmente. Nela, os alunos aprendem a usar o celular para fazer fotos, vídeos, enviar áudios, usar a calculadora e muito mais. “Eles têm o aparelho celular, mas não conseguem mexer. Muitos só passam áudio porque ainda não sabem ler. Outros nem o áudio sabem passar”, conta Andresa, que tem visto essa realidade melhorar aula após aula.
Foco no estudante
Andresa conta que uma prática essencial no seu dia a dia como professora é ouvir os estudantes. Em todo início de aula, acontece um acolhimento e uma roda de conversa. “Nesse momento, eles relatam para nós os anseios deles, o que eles querem aprender”, afirma.
Foi em uma dessas rodas que a professora descobriu que os alunos gostariam de aprender a ver o horário em relógios analógicos. “Houve um relato na minha sala de um aluno que queria aprender a olhar a hora. Ele tinha ganhado um relógio analógico muito bonito, mas não conseguia usar”.
Andresa, então, trouxe os materiais na aula seguinte e, junto com os alunos, confeccionou um relógio analógico. Em seguida, os estudantes movimentaram os ponteiros e aprenderam a contar os minutos. “Foi um trabalho muito gostoso. Eles chegaram ao objetivo: hoje, eu tenho um relógio na sala e eles olham e me falam a hora certinho”, conta a professora, orgulhosa. “Para a gente, é muito gratificante ver que o estudante aplicou o conhecimento no seu cotidiano, na sua vida”, completa.
Para a professora, atender às demandas dos estudantes é a principal forma de não infantilizar o ensino na EJA. Sandra acredita que outras atitudes simples podem também ajudar nesse processo.
Um exemplo é a troca das palavras usadas para alfabetizar. Ao invés de palavras focadas no universo infantil, como bola e boneca, a escola passou a adotar palavras do universo dos adultos, como café e trabalho. Algo simples, mas significativo.
“Com essas mudanças que implementamos no projeto, os alunos perderam a timidez e estão mais engajados. A frequência melhorou muito e nós não tivemos evasão neste ano. Nenhuma. Agora, eles têm prazer em vir para a escola”, afirma Sandra.
Saiba mais
A experiência desenvolvida pelas educadoras Andresa, Sandra e Taís foi exposta em transmissão ao vivo na conta do Instagram do programa de formação da UFPB no âmbito do Pacto EJA, e pode ser conferida na íntegra no perfil @pactoeja.

