“Fiquei quase cinquenta anos
Sem caderno, sem lição,
Mas cuidei dos meu meninos
Com amor no coração.
Hoje tenho muito orgulho
Da minha dedicação”.
Esse é um trecho do cordel que conta a história de Maria Áurea, 63 anos, aluna da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no município de Olho D’água das Cunhãs, no Maranhão. A história de Dona Maria está retratada em um livro produzido pelos alunos da EJA que conta a vida de várias mulheres que voltaram a estudar.
A atividade, coordenada pelas professoras Erica de Moraes dos Santos, Maria Margarida Silva Barros e Samara de Oliveira Nascimento, foi uma das cinco selecionadas para o compartilhamento de experiências exitosas, atividade proposta pelo programa de formação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) no âmbito do Pacto EJA.
Motivadas pela formadora local, as professoras desenvolveram um projeto que previa a criação de uma revista com cordéis que contassem a história de suas aulas. O resultado está disponível neste link.
Educar para emancipar
Professoras visitaram estudantes para conhecer suas histórias. Foto: Arquivo pessoal
Para produzir a revista em conjunto com os estudantes, as professoras realizaram entrevistas com as alunas, que compartilharam suas histórias pessoais. “Percebemos, com as entrevistas, que as alunas vivenciam realidades diferentes, mas ao mesmo tempo muito parecidas. Para estar em sala de aula, elas enfrentam vários desafios, e são motivadas por muitos sonhos”, comenta Erica, professora na Escola Municipal Antônio Lisboa de Castro.
“Muitas conciliam os estudos com responsabilidades familiares, como cuidar de filhos, e com jornadas de trabalho exaustivas, muitas vezes em empregos informais ou precarizados. Relatos de alunas coletados por meio de entrevistas para a elaboração da revista apontam como a EJA não apenas eleva o nível de escolaridade, mas também transforma a forma como elas se veem e são vistas pela sociedade, promovendo empoderamento pessoal e coletivo. A educação também amplia a participação em espaços de decisão, como associações comunitárias ou movimentos sociais, fortalecendo sua voz na sociedade”, complementa a professora.
Depois das entrevistas com as alunas, foram promovidas oficinas de criações poéticas, nas quais os estudantes construíram em conjunto versos de cordel sobre as histórias das colegas. Em sala de aula, foram trabalhados elementos como rimas, versos, estrofes e leitura de cordel, valorizando também a cultura popular.
Alunas criaram, juntas, os versos. Foto: Arquivo pessoal
Erica comenta que as alunas se sentiram bastante valorizadas com a atividade e com a publicação. Para a professora, o trabalho reflete a importância de investir na EJA, sobretudo pensando no público feminino.
“Para muitas mulheres, a EJA representa uma segunda chance de acessar o conhecimento, superar barreiras históricas e construir um futuro com mais autonomia e dignidade. Para elas, estudar é um ato de resistência contra as opressões de gênero, classe e raça. A EJA é um instrumento de transformação social que empodera mulheres para romperem ciclos de exclusão. Ao investir na educação de mulheres adultas, a sociedade não apenas corrige desigualdades históricas, mas também constrói um futuro mais igualitário”, defende a professora.
Experiências exitosas
Além de Erica e suas colegas, outros quatro professores de diferentes regiões do Brasil foram escolhidos para apresentarem suas experiências exitosas na sala de aula da EJA. O encontro com as apresentações pode ser revisto abaixo: