“Professora, nunca aprendi desse jeito. Acho que daqui a alguns meses vou estar bem mais avançado”. Esse foi o comentário que a professora Gesica Guedes de Santana Malta ouviu de um de seus alunos do Centro Municipal de Educação de Jovens e Adultos de Guarapari, Espírito Santo.
Esse tipo de relato é bastante comum de ser ouvido nas aulas da educadora, que busca utilizar metodologias ativas com seus estudantes, focando em atividades interdisciplinares e que estabelecem conexões com as vivências e saberes prévios dos educandos.
A experiência de Gesica na sala de aula da EJA foi uma das selecionadas pelo programa de formação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no âmbito do Pacto EJA, para o compartilhamento de experiências exitosas.
Alunos no centro do processo de aprendizagem
Desde que assumiu a sala de aula da EJA, Gesica tem focado em atividades que vão além do quadro, trazendo os estudantes para o centro do processo de aprendizagem. Para isso, relata que costuma sempre iniciar as atividades com uma escuta ativa, compreendendo os saberes prévios e o contexto dos estudantes. “O diálogo é uma ferramenta muito importante no processo de aprendizagem”, defende.
Dessa abordagem têm surgido diversas atividades interessantes. Um exemplo foi uma aula na qual a professora contou com a ajuda de um aluno que é oleiro para confeccionar tabuletas de argila, com as quais toda a turma pode explorar a história da escrita e a importância da linguagem.
“Não é só a professora apresentando o conhecimento, mas o aluno trazendo toda a experiência a partir da sua profissão”, comenta Gesica, que reforça que busca sempre uma abordagem interdisciplinar para que os educandos “possam entender que o conhecimento não está desconectado”. No caso dessa atividade, foi possível trabalhar História, Língua Portuguesa, Geografia e Arte.
Outra atividade desenvolvida por Gesica foi uma na qual ela usou jujubas e palitos para que os alunos criassem formas geométricas. Para a professora, essa é uma forma de criar uma “memória gostosa” que ficará associada ao aprendizado.
Atividades dinâmicas motivam os alunos da professora Gesica. Imagens: arquivo pessoal.
“Sabemos que não é fácil vir para a escola depois de uma longa jornada de trabalho, então essa experiência precisa fazer sentido para eles. O saber prévio precisa ser valorizado”, comenta a docente.
Em todas as aulas e sequências didáticas que desenvolve, Gesica foca sempre em alguns princípios: integrar teoria e prática; escutar ativamente os estudantes; promover a troca de experiências entre os colegas; apostar na interdisciplinaridade; registrar as atividades; e prezar tanto por momentos coletivos quanto por momentos individuais, nos quais consegue captar as necessidades específicas de cada estudante.
Apesar das aulas ativas estarem fazendo sucesso nas turmas de Gesica, ela conta que alguns estudantes ainda têm resistência com essa metodologia. “Alguns alunos carregam memórias escolares da infância que associam o aprendizado a uma prática tradicional: muitas atividades escritas e anotações extensas no quadro. Para eles, isso representa ‘estudar de verdade’”, comenta a professora.
Nesses casos, ela busca respeitar essa percepção e equilibrar as atividades. “Valorizo o registro no caderno e o mantenho como parte importante das aulas, ao mesmo tempo em que introduzo gradualmente outras formas de aprendizagem, com o cuidado de mostrar aos alunos que aprender também pode ser dinâmico, envolvente e significativo - mesmo que seja diferente do que estavam acostumados”.
Experiências exitosas
Além de Gesica, outros quatro professores de diferentes regiões do Brasil foram escolhidos para apresentarem suas experiências exitosas na sala de aula da EJA. O encontro com as apresentações pode ser revisto abaixo: