Desde o início deste ano, a professora Janaide Coelho da Silva deixou a sala de aula regular para se dedicar a um projeto de intervenção à leitura e escrita na Escola Municipal Dona Ivany, em Pauini (AM).
Professora da Educação de Jovens e Adultos (EJA) há oito anos, Janaide vinha sentindo uma grande defasagem na alfabetização dos seus alunos, o que gerava neles uma forte desmotivação para continuar estudando. Ela, então, sugeriu à gestão da escola um projeto dedicado à recomposição de aprendizagens dos estudantes com mais dificuldades, que contou com o apoio da unidade e teve início neste ano.
Os docentes das turmas regulares fizeram uma sondagem para identificar os alunos com maiores defasagens na alfabetização, que foram destinados a participarem do projeto.
Em poucos meses, a professora já tem percebido resultados bastante exitosos, daqueles que chegam a emocionar. No dia em que uma aluna com bastante dificuldade conseguiu ler pela primeira vez, por exemplo, Janaide sentiu a alegria e a gratidão transbordarem.
“Foi um dia que eu cheguei em casa rindo, cantando. Foi um dia de vitória”, conta.
No projeto, a professora foca em duas estratégias principais: respeitar o contexto, o histórico e a vivência dos estudantes; e acompanhar o ritmo de cada um.
Janaide conta que tenta estabelecer uma amizade com os alunos, e faz sempre uma interação mais animada no início do período, já que é comum que os estudantes cheguem cansados e desanimados. “A gente tem que levar em consideração os desafios que eles têm na vida. Muitos deles chegam na sala de aula e dizem: ‘Professora, eu só vim porque eu não queria perder sua aula, mas nem jantar eu jantei’. Como professora, eu tenho que levar em consideração e valorizar aquela vinda dele à sala de aula, porque eu sei que ele está ali porque ele quer aprender”, relata Janaide.
Já na hora de ensinar, a professora costuma considerar os conhecimentos que cada estudante carrega, respeitando as diferenças de níveis existentes dentro da sala. “Alguns já conhecem o alfabeto, outros não. Uns sabem juntar as letras, outros ainda estão aprendendo. Então, eu vou intervindo conforme a necessidade de cada um. Subindo um degrau de cada vez”.
Professora Janaide embaralha sílabas para desafiar os alunos. Foto: Arquivo pessoal.
Trazendo o lúdico para a EJA
Na mesma escola, o professor Leandro Ferreira de Sena tem usado uma estratégia diferente, mas que também tem alcançado bastante sucesso: trazer atividades lúdicas para dentro da sala de aula da EJA.
Com experiência em escolas regulares, este ano é o primeiro em que Leandro atua com esse público. Ele decidiu, então, adaptar algumas experiências que tinha com crianças e adolescentes para o público de jovens, adultos e idosos.
Por enquanto, tem dado muito certo, e o professor tem recebido até cobranças dos estudantes, que gostaram tanto das atividades lúdicas que querem outras no mesmo estilo.
Uma das brincadeiras que Leandro aplicou em sala de aula foi o Bingo com palavras, que fez bastante sucesso entre os alunos. O professor aproveitou o momento para focar nas defasagens específicas de cada estudante. Isso porque cada um montou a própria cartela utilizando palavras que tivessem mais dificuldade de ler e escrever.
“Eu fiz uma avaliação diagnóstica com palavras com sílabas simples e complexas. Depois, eu imprimi uma cartela grande e coloquei, em uma folha, cerca de 40 a 50 palavras. Ficou a critério deles preencher a cartela com as palavras que eles tivessem mais dificuldade, por exemplo, palavras escritas com PL ou GL”, explica o docente.
Outra atividade lúdica proposta por Leandro foi uma competição em grupos, na qual cada equipe precisava se unir para formar palavras mais rapidamente. Confira:
No lúdico, Leandro encontrou uma forma de animar seus alunos. “A maioria deles são adultos ou senhores que trabalham o dia todo, que já vêm cansados para a aula. Nós temos que incentivá-los a não desistir. Todos têm potencial. Só que alguns acreditam que não, acham que a idade já chegou e não há mais oportunidade. Nesse sentido, nosso papel é importante porque nós estamos ali para mostrar para todos eles que ainda há chances”, comenta.
Pacto EJA incentivando boas práticas
As formações oferecidas pelo Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação na Educação de Jovens e Adultos, o Pacto EJA, como a ofertada pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), têm sido um grande apoio para que os docentes construam atividades exitosas.
Simone Moreira de Almeida, Formadora Regional do Pacto em Pauini, comenta que as formações “são norteadoras no que se refere a metodologias e estratégias eficazes, que buscam garantir a questão da aprendizagem significativa e, ao mesmo tempo, a inclusão dos alunos de EJA dentro de um âmbito escolar”.
Simone em formação com professores do PBA. Foto: Arquivo pessoal.
“Nós estamos lidando com pessoas que já trazem um conhecimento, já tem uma vivência. É muito importante termos orientações e formações para que as nossas metodologias chamem a atenção desse público diferenciado, e para que seja tudo contextualizado, analisando também a diversidade cultural de cada aluno”, comenta a formadora.
Janaide tem participado das formações ofertadas por Simone através do Pacto, e comenta que nunca tinha tido uma orientação deste tipo voltada à modalidade da EJA. “Essas formações têm vindo para nós como um clareamento. A gente não tinha formação antes, e agora estamos aproveitando para tirar muitas dúvidas. Tem momentos que eu falo: ‘Eu estava errada nisso’. Sempre a gente se depara com o novo. E, aprendendo, eu vou adequar ainda mais o meu planejamento às necessidades desse público”, afirma a professora.
“Até então, a EJA era esquecida”, afirma Simone. “Agora, com o Pacto, as escolas e os professores estão tendo suporte”.